O mapa da Inovação em Governo no Brasil — e como usá-lo
Você com certeza já utilizou um atlas, né? Puxa aí pela memória, tenta se lembrar das aulas de Geografia no Ensino Médio. Você vai recordar que um dia colocou as mãos em um atlas e descobriu que ele é, na verdade, uma coleção, um caderno repleto de mapas diferentes, cada um deles com variadas informações cartográficas sobre regiões específicas.
A origem do nome é curiosa e remete a um personagem da mitologia grega: após uma grave treta com o Olimpo, Atlas, que fazia parte do grupo dos titãs, acabou condenado a sustentar o globo terrestre em seus ombros por toda a eternidade. Essa cena emblemática passou a ilustrar as primeiras coleções de mapas da antiguidade, o que é muito pertinente, uma vez que os cartógrafos da época buscavam representar com mais detalhes justamente esse globo carregado pelo titã. Com o tempo, os livros de mapas passaram a ser popularmente conhecidos simplesmente por Atlas.
Voltando à época da escola e ao seu atlas, pense nos mapas do Brasil. Eles eram todos iguais? Claro que não, você vai responder. E é isso mesmo, você está absolutamente certo — até porque, não faria nenhum sentido todos eles serem iguais. Cada mapa daquele conjunto tinha uma determinada abordagem, não é mesmo? Havia os mapas físicos, que traziam informações sobre o relevo e a vegetação; também os mapas políticos, com as fronteiras dos estados e municípios, e até mapas econômicos, Mas o que tudo isso tem a ver com o cenário da inovação em governo no Brasil? Tudo!
Assim como a Geografia, também a Inovação pode ser observada, analisada e entendida por diversos ângulos — e isso implica que as abordagens da inovação em governo também serão múltiplas. Esse é um conceito simples, porém muito importante, e que, curiosamente, pode passar despercebido quando você pensa em dar início a um projeto de inovação. Começar a investir em inovação sem refletir sobre isso pode ser um problema e eu já vou dizer o porquê — contando uma história.
Certa vez, fomos procurados por um grupo que estava realizando um benchmark para a criação de um laboratório de inovação em determinado órgão público. Depois de uma fantástica troca de ideias, fiz uma pergunta cuja resposta me levou a escrever esse texto. Ao questioná-los sobre que tipo de laboratório eles queriam ser, o grupo respondeu que se inspirava em nós, LABHacker da Câmara dos Deputados, no GNova e no (011)Lab e que a ideia era ser um pouquinho de cada um desses. Parece uma ótima ambição, não é?
Não, não é, porque esses três laboratórios são muito diferentes. Se usássemos um mapa geográfico para entendê-los, descobriríamos que um deles, o (011)Lab, está no âmbito municipal, enquanto os outros dois são federais. Já com um mapa político, perceberíamos que o LABHacker faz parte do Poder Legislativo, enquanto os outros dois estão no Executivo. Há diferenças no modo de atuação também. O GNova é mais voltado para o que podemos chamar de capacitação para a inovação, em diversas esferas. Já o (011)Lab se dedica ao aprimoramento da prestação de serviços públicos à população. Por sua vez, o LABHacker atua na prospecção e prototipação de metodologias e ferramentas para a participação popular e transparência legislativa. Em resumo, fora ter a inovação como princípio básico, esses laboratórios têm muito pouco a ver uns com os outros em suas entregas. É claro que compartilhamos boas práticas, como o foco no cidadão e a utilização de metodologias ágeis, mas as características particulares são determinantes em cada realidade.
Em outras palavras, a menos que um determinado órgão público dedique um grande número de servidores — e também de recursos -, parece pouco provável que consiga estabelecer um laboratório de inovação capaz de cobrir todas as atuações possíveis ou desejáveis. Pela experiência, podemos dizer, inclusive, que essa não é a realidade Brasil afora.
Diante disso, a dica de hoje é: foco. É claro que, em um primeiro momento, a intenção de se criar um laboratório de inovação deve ser acompanhada pelo esmero em buscar inspirações e cases interessantes, numa espécie de brainstorming que vai ajudar, e muito, e definir que tipo de laboratório faz mais sentido ser para o contexto em que se está inserido. Mas essa definição precisa acontecer em algum momento, a fim de que essa intenção se transforme em algo de real valor para a instituição, entregando de maneira específica o que é importante para ela. Essa estratégia é útil para que você foque e consiga se especializar no que é mais importante.
Por isso, quando for olhar o cenário de inovação em governo no Brasil, use os mapas certos, sabendo bem o que está procurando. Aproveite as informações e inspirações coletadas para ajudar na definição de que tipo de laboratório vocês querem ser, e qual tipo de atuação vocês irão se dedicar. Afinal de contas, nenhum de nós é titã para carregar o mundo nas costas, não é verdade?
Estamos aqui à disposição para continuar essa conversa, mas de antemão já posso garantir uma coisa: quando vocês tiverem claro o que querem ser e o que querem fazer, tudo fica bem mais fácil. Boa jornada!